23 de março de 2009

A Fada Penélope levou a chupeta e o paninho do meu filho

Num sábado à noite, enrolando um bocado para dormir, o RoRo fala: "hoje vou dormir sem pepê e sem fafá". Por um instante pensei que fosse um sonho. Mais do que depressa perguntei se ele queria dar a pepê (chupeta) para a Fada Penélope. Tinha assistido a esta tática no Super Nanny. Decidido, ele disse que sim. Meu marido ainda perguntou se não era melhor deixar para o dia seguinte (passava das 9 da noite, hora em que criança deveria estar na cama). Fui firme: "Não, tem que ser agora". Aquela brecha não podia ser perdida em hipótese alguma.

Eu já não aguentava mais ouvir as palavras pepê e fafá (que soavam como nome de dupla sertaneja) em voz de choro e imploração diante de qualquer frustração – que ocorre a cada cinco minutos na vida de uma criança com dois anos e oito meses! Perguntei: "RoRo, você quer dar sua pepê para a Fada Penélope para que ela possa dá-la a um bebê que vai nascer? Com você foi assim. Quando você nasceu, a Fada trouxe uma pepê que tinha sido de um menino que tinha crescido e não precisava mais dela. Com a Lalinha também; ela trouxe de uma menina que não queria mais a chupeta. Se você quiser entregar sua pepê para a Fada, em troca ela te dá uma bicicleta".

Ele topou na hora. Embora eu achasse que a bicicleta era um presente grande demais pelo seu tamanho (ele ainda nem pedalava o velotrol) e valor (acredito que trocas como esta não devam estar relacionadas a presentes muito caros), já tínhamos sugerido que ele trocasse a chupeta por uma bicicleta – apenas imaginávamos fazer a troca no Natal deste ano, com três anos e sete meses, mais maduro, com a irmã maior e sem o intermédio da Fada, personagem, aliás, que ele conheceu naquela noite.

Como não podíamos correr o risco do RoRo ter registrado na memória a idéia de que o fim da chupeta estava relacionado com o ganho de uma bicicleta, a bicicleta se manteve como moeda de troca. Era mais prudente dar o presente grande ao menino que queria ficar grande.

Ainda que eu tenha sido determinada no início dessa história pontuando que a hora de abandonar a chupeta tinha chegado, eu temia sua precocidade. Fazia apenas 20 dias que tínhamos começado a tirar a fralda diurna (2 anos e 7 meses). Tirar mais um conforto, dele e nosso, me parecia muita coisa. Para me assegurar de que o tempo era certo, liguei para a minha irmã, com quem eu comentara sobre o programa da TV, e, usando o viva voz do telefone, fui indicando a conversa que ela, agora Fada, deveria ter com o RoRo. Eu queria me certificar de que sua decisão não tinha volta e que ele concordasse em não usar a chupeta da irmã. Ele não vacilou pois já tinha topado a troca desde o início. Ele estava encantado, talvez pela magia da Fada, personagem nova e, mais do que nunca, concreta.

Quando desligamos o telefone, meu marido e ele fizeram um envelope para a Fada, todo colorido e desenhado. Na hora de colocar a chupeta, para minha surpresa, o RoRo também colocou a fafá (paninho). Fechou o envelope e levou com o pai na caixa de correio do condomínio.

Eu tremia nas bases pensando na noite que teríamos – era impossível pensar no RoRo dormindo sem a pepê e a fafá, objetos inseparáveis, principalmente depois que engravidei da Lalinha. Mas ele estava tão pronto para deixar a dupla, que na hora de dormir, pela primeira vez na vida, disse: "Você não, mamãe", fechando a porta do quarto, me colocando para fora, com fala e gesto de que: "Cresci, não preciso de você para eu ter uma boa noite de sono". Não precisava nem de mim, nem da chupeta, nem da fafá, pelo menos naquela noite. Para minha surpresa, alívio e tranquilidade ele dormiu a noite toda.

No dia seguinte passamos a tarde na minha irmã, onde a Fada deixou, na porta da cozinha, com bilhete e tudo, a prometida bicicleta. Ele ficou feliz e todos os marmanjos emocionados. Era um marco do seu crescimento.

Por alguns dias a bicicleta azul e amarela foi assunto a cada novo encontro. O RoRo não permitia que eu contasse para ninguém sua história. Queria ser seu próprio narrador, ter o gosto de contar e recontar sua conquista. Com jeitinho eu ia traduzindo sua fala apressada e atropelada para que todos entendessem e vibrassem com sua vitória.

Nestes dias ele perguntava com frequência onde estava a Fada, onde ela morava. Chegou a pedir para eu ligar para ela. Sempre fui objetiva e dei respostas simples: "ela está trabalhando", "ela mora na casa dela". Ele sempre se satisfez com as respostas.

Poder saciar sua curiosidade sobre a fada e poder contar sua história ajudou o RoRo a se apropriar da nova condição de menino grande que não usava mais chupeta e paninho para dormir e se apoiar nos momentos de frustração e cansaço. Cada vez que pedia a chupeta e o paninho nós o lembrávamos de que ele os havia dado para a Fada Penélope porque já era grande e que em troca tinha ganhado a bicicleta. Às vezes ele aceitava, outras vezes chorava um pouco, mas logo passava.

Do abandono da dupla até hoje (3 meses) o RoRo veio gradativamente solicitando-a menos. Atualmente, quando pede por sua pepê e fafá é porque está cansado (mais do que frustrado). Em geral oferecemos colo, um afago ou uma mudança de cena. Ele deu umas roubadinhas na chupeta e no paninho da irmã, mais para testar nossa reação do que para matar a saudade deles. Ele sabe que cresceu e enfatiza isso o tempo todo. Cresceu tanto, que além de dormir sem pepê e fafá, aprendeu a pedalar o velotrol. Agora arrisca-se a sentar no pneu da bicicleta (porque o banco ainda é um pouquinho alto...) curtindo seu presente que já não é tão grande quanto pareceu um dia. E eu sou uma mãe feliz, orgulhosa, não só por ver meu filho crescendo com tranquilidade e saúde, mas também por não vê-lo mais arrastando aquele pano que eu sempre abominei!

Nenhum comentário: